As virtudes são hábitos que nos inclinam a realizar a vontade de Deus. Por serem hábitos, é necessário o nosso esforço pessoal em desempenhá-las cotidianamente, até que passem a fazer parte de reações naturais em nossas rotinas. A justiça, por sua vez, diferentemente das virtudes teologais (fé, esperança e caridade), é uma virtude humana cardeal, logo, faz parte do eixo ao redor do qual se desenvolvem inúmeras outras virtudes.

Quando pensamos em justiça, pensamos na preservação da ordem social por meio do respeito aos direitos que existem em uma sociedade, tais como os direitos humanos. Ocorre que, a justiça pensada enquanto virtude e em sua origem, leva-nos a refletir diretamente acerca da nossa relação para com Deus.

A bíblia, desde as antigas escrituras, mostra-nos a força da justiça de Deus que se revela em inúmeros acontecimentos. O próprio Senhor, portanto, ensina-nos que a justiça é dar ao outro o que lhe pertence. Mc 12, 17: “Jesus, então, lhes replicou: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

Percebemos, assim, que a justiça não é uma virtude que diz respeito ao indivíduo em si, mas sim ao desenvolvimento de sua relação com as demais pessoas dentro de uma sociedade. É uma virtude, portanto, que organiza nosso relacionamento com os outros, forçando-nos a atribuir a cada um o que é seu e executar isso corriqueiramente, pois “fazer justiça” não significa que sejamos pessoas justas. Para isso, é necessário o hábito, a repetição contínua de atitudes justas, e aí reside a nossa maior dificuldade enquanto seres humanos.

Acontece, que não conseguiremos adquirir tal virtude se não formos justos, primeiramente, com o Deus que nos criou: “dar a Deus o que é de Deus”. A tendência humana é de a cada vez mais tomar o lugar de Deus ou ocupá-lo com inúmeras outras prioridades. Logo, precisamos estar empenhados, em primeiro lugar, na nossa relação com Deus para que consigamos ser justos com os demais. Nós, enquanto criaturas, precisamos obedecer àquele que nos criou, mas insistimos em inverter esse papel.

O simples fato de existirmos nos dá direitos e deveres que foram estabelecidos em nossa legislação, porém, antes de qualquer legalização, são direitos e deveres que nos foram dados por Deus no ato de sua criação, advindo, portanto, da natureza que Ele nos concedeu. Assim sendo, que nos empenhemos cada vez mais em dar a Deus o que lhe é devido para que, dessa forma, consigamos desenvolver hábitos justos para que nos tornemos verdadeiramente virtuosos.

– Carolyne Jacob, Consagrada Cristo Alegria